BlogTemas de Capa

Massacre em escola incendeia debate sobre armas nos EUA

milenio stadium - escola massacre FOTO ARTIGO USA

 

Mais uma vez o horror tomou conta de uma nação. Nessa semana, nos Estados Unidos, na pequena cidade de Uvalde, no Texas, foram realizados os primeiros funerais e cerimônias de despedida das 21 vítimas mortais do tiroteio em massa que aconteceu na escola primária Robb Elementary School, em 24 de maio. Além de duas professoras, foram mortas 19 crianças, com idades que variam entre os nove e os 11 anos. Vidas ceifadas de maneira precoce e covarde, num ataque perpetrado por um jovem de 18 anos, que munido de uma arma, comprada de forma legal naquele estado, e por razões ainda desconhecidas, decidiu instaurar o terror e o luto eterno numa comunidade devastada pela dor. Esse foi o terceiro tiroteio em escolas com o maior número de mortes da história daquele país.

Pais, amigos e familiares enlutados que se juntam a um grupo que cresceu de maneira assombrosa nos Estados Unidos apenas neste último mês, o de pessoas que perderam entes queridos devido a crimes violentos cometidos com o uso de armas de fogo. De acordo com o Gun Violence Archive, uma organização sem fins lucrativos que rastreia tiroteios nos EUA, neste ano, até agora, já aconteceram 230 tiroteios em massa no país, o que a organização define como um evento onde quatro pessoas ou mais foram mortas ou feridas com uso de armas, não incluindo o autor do ataque. Isso significa que esses episódios violentos já ultrapassam os dias do ano até então: 153 até essa sexta-feira (3 de junho).

Os mais recentes, e mortais, aconteceram numa sequência de dias: na quinta-feira (02 de junho) na cidade de Tulsa, Oklahama, um homem invadiu um centro médico e matou um cirurgião e outras três pessoas e logo em seguida tirou a própria vida. No mês passado, na cidade de Buffalo, Nova Iorque, 10 pessoas foram mortas e três feridas quando um homem armado atirou contra frequentadores de um supermercado num bairro da comunidade negra. Poucos dias depois, o horror ataca novamente, dessa vez o alvo foi uma escola, as vítimas dezenas de crianças e o mundo, assim como os norte-americanos se perguntam: quando isso vai parar?

O Presidente dos EUA, Joe Biden, num dos discursos que fez após o episódio, classificou o que acontece no seu país como uma “carnificina” e chegou a bradar aos céus pedindo respostas: “Quando, em nome de Deus, vamos enfrentar o lobby das armas? Quando, em nome de Deus, faremos o que todos sabemos que precisa ser feito?”, questionou.

Essas mesmas perguntas são feitas por milhares de pessoas, que se comovem e chocam, com a sequência de atos violentos dessa natureza que costumeiramente acontecem num dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Embora a violência provocada pelas armas de fogo seja comum em outros países subdesenvolvidos, como El Salvador, Guatemala e Colômbia, onde predominam as disputas entre gangues e o tráfico de drogas, entre as economias desenvolvidas nenhuma outra tem tantas mortes violentas por armas de fogo quanto os EUA.

Apesar dos pedidos por mudanças, vale recordar que essa também é uma questão cultural naquele país. O direito do cidadão de se defender e ter uma arma está protegido pela Segunda Emenda da Constituição. Apesar da legislação variar de estado para estado, sendo em alguns mais rígida e outros mais permissiva, em geral as leis e políticas relacionadas ao armamento são muito mais brandas em comparação com outros países com economias desenvolvidas, como o Canadá e a Austrália, por exemplo.

Durante uma visita para prestar solidariedade a comunidade de Uvalde, o Presidente Biden foi confrontado por uma multidão que gritava em uníssono: “Faça alguma coisa”. Em resposta, disse “Vamos”, num tom que alguns analisaram como sendo otimista de que consiga encontrar apoio entre os partidos para que de fato mudanças possam acontecer e acrescentou: “A Segunda Emenda nunca foi absoluta. Você não pode comprar um canhão desde que ela foi aprovada. Você não pode sair e comprar um monte de armas.”

Num país com uma cultura de armas muito forte não é fácil lutar contra o poder, e a influência, exercidos por essa indústria e seus defensores. Um exemplo claro aconteceu dias depois do massacre na escola de Uvalde. Em outro ponto do Texas, Houston, acabou por ser realizada normalmente, apesar de alguns protestos, a convenção anual da The National Rifle Association’s (NRA), entidade que financia com doações milionárias diversas campanhas políticas de importantes figuras do país. Por sua vez o Partido Republicano também, em grande parte, tem uma postura pró-armas. O governador do Texas, o republicano Greg Abbott, cancelou uma aparição agendada nesse mesmo evento da NRA, mas dirigiu-se aos participantes através de uma mensagem pré-gravada.

Nessa semana um grupo composto por senadores democratas e republicanos começou a discutir no Capitólio, tanto pessoalmente quanto virtualmente, maneiras para que se possa formular o que o democrata de Connecticut, Chris Murphy, chamou de “um pacote significativo” de medidas legais relacionadas ao controle das armas de fogo que tenha chances de ser aprovado. As negociações estão centradas em ampliar as verificações de antecedentes criminais e as chamadas “red flags” de possíveis compradores, permitindo que as autoridades removam armas de fogo de indivíduos considerados por um tribunal como uma ameaça a si mesmos ou a outras pessoas. Essas, no entanto, são alterações consideradas “modestas” pelos defensores de mudanças nesse setor, em especial diante dos repetidos casos de violência provocada por armas de fogo no país. Os especialistas no assunto são céticos em relação a profundidade das mudanças na legislação que de fato poderão ser implementadas.

Os Estados Unidos, e o mundo, acompanham o desenrolar dessa história enquanto que aos pais e familiares que tiveram suas vidas dilaceradas por essas tragédias resta conviver com a dor e o vazio provocados pelo que alguns chamam de “tragédias anunciadas”, ou que pelo menos poderiam ser evitadas, caso uma legislação de controle de armas mais rígida fosse implementada naquele país.

Lizandra Ongaratto/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER