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Mandamos? Ou somos mandados?

milenio stadium - Controlo alimentar

 

A manipulação distingue-se do engano e da deturpação. E difere da persuasão porque envolve intenções obscuras. O ser humano vive convicto de que é o seu livre-arbítrio que reina, mas será mesmo? Num mundo cada vez mais globalizado e consumista, desde o setor comercial ao mundo político, o ser humano é bombardeado com inúmeras táticas subtis que pretendem manusear o seu pensamento, influenciar as suas emoções e alterar a sua decisão.

Mais do que um produto, Um estilo de vida

A competição entre as empresas da indústria do tabaco sempre foi feroz e implacável. Primeiro, focaram-se em tornar socialmente aceitável o consumo de tabaco. Na primeira metade do século XIX, naqueles que foram considerados os anos de ouro do tabaco em Hollywood, recorreram às estrelas de cinema, pagando quantias milionárias, para promover a imagem do cigarro e o seu consumo. Já todos nós fomos bombardeados com momentos de cinema em que a personagem principal fuma, dando-lhe um ar glamoroso, cool e até destemido. Desde Humphrey Bogart em Casablanca à atuação de Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany’s – uma tendência ainda visível nos dias de hoje.

milenio stadium - Marlboro Man Ex.1A empresa Philip Morris, na qual se insere a conhecida marca de tabaco Marlboro, foi pioneira na área do Marketing. Em 1950, a indústria tabaqueira deparou-se com um momento desafiador. Novos estudos científicos estabeleciam a ligação entre o consumo de tabaco e o cancro do pulmão. O que poderia ter sido um momento devastador para a indústria, com uma possível perda de milhões de consumidores, tornou-se num golpe certeiro e numa revolução no mundo do marketing. Numa época em que se tornou fundamental cativar o cliente, e enquanto a competição optava por uma abordagem mais factual e aborrecida, a Marlboro decidiu mudar o seu foco e a perceção da sua própria marca.

Além dos desafios que a indústria enfrentava, a Marlboro era vista por muitos como uma marca de cigarros para mulheres, num mundo onde o homem era o maior consumidor. Então, a Marlboro revolucionou a sua marca – já não era apenas um produto ou um luxo, era um estilo de vida. Com os homens como público-alvo, a Marlboro deu início à criação do ‘Marlboro Man’. Recorreram à imagem de um cowboy a cavalgar pela natureza selvagem da América, isto para representar uma personagem forte, aventureira e livre. Sugerindo que os homens que consumiam Marlboro eram melhores que os restantes. A empresa procurou criar uma ligação entre o consumo de Marlboro e a própria masculinidade.

Em apenas um ano de campanha, passou do domínio de apenas 1% do mercado para a 4º maior empresa da indústria tabaqueira. No final dos anos 60, a presidência de Nixon baniu os anúncios de tabaco das televisões e rádios e a Marlboro voltou a dar um novo golpe de mestre. Criou a Marlboro Adventure Team, uma linha de equipamentos para atividades ao ar livre, infiltrou-se na indústria da moda e vendeu mais de 14 milhões de peças, entranhou-se em eventos desportivos e de automobilismo (Grand Prix, Formula 1, Indy Car), com o intuito de vender cigarros aos mais jovens. Quatro anos depois, tornaram-se a maior empresa na venda de tabaco a nível mundial. O que mudou não foi o produto, mas sim a forma como nos foi apresentado. E hoje, vivemos rodeados deste género de publicidade que manuseia o pensamento e os sentimentos do ser humano em prol do seu lucro.

O controlo corporativo da alimentação

A abundância de escolha nos supermercados não passa de uma mera ilusão.
Quando entramos num supermercado, tudo está pensado e disposto com precisão de forma a manipular o cliente a consumir mais do que aquilo que necessita. Certamente que já reparou que os bens de valor mais elevado estão normalmente à altura do olhar, que estrategicamente colocam artigos baratos na zona das caixas registadoras, que nos oferecem sistemas de pontos e cartões de lealdade para que nos tornemos consumidores assíduos e que nos oferecem muitas vezes a ilusão de promoções que na verdade não o são. Nada disto é feito ao acaso, é o resultado de vários estudos profundos para compreender o pensamento humano e para o manusear a favor do lucro dessa empresa.

A própria abundância de escolha nos supermercados não passa de uma mera ilusão. Por detrás das milhares marcas, estão algumas multinacionais que controlam todo o mercado, ou seja, aquilo que comemos. A falta de jurisdição por parte do governo conduziu ao monopólio da alimentação. A falta de competição e a compra de pequenas/médias empresas que vão aparecendo no mercado, aumentam significativamente o lucro dessas multinacionais. Com o controlo do mercado, estabelecem os preços das colheitas, tendo grande impacto no setor agrícola.

Antes de acreditares em algum estudo sobre alimentação, vê quem o financia

A manipulação de estudos não se desenvolveu apenas na indústria farmacêutica. E ao longo dos anos vamos vendo as versões serem alteradas. Antes beber leite era fundamental, hoje já é prejudicial. Antigamente era a gordura que causaria o aumento de peso e problemas cardiovasculares, hoje já se vê que o açúcar tem o mesmo efeito. E sim, a tecnologia desenvolveu-se, existe acesso a mais informação, contudo o papel de uma empresa é sempre o mesmo, ter lucro e, para algumas, a qualquer custo.

Em 2015, o professor de nutrição Marion Nestle, da Universidade de Nova Iorque, reviu 168 estudos da indústria alimentar, chegando à conclusão de que 156 estudos mostravam resultados tendenciosos a favor dos interesses do patrocinador. Existe uma forte correlação entre o patrocínio e os resultados dos estudos.

Declarações recentes, comprovam que a indústria do açúcar tem vindo a pagar a cientistas desde 1960 para que estes mostrassem a gordura saturada e não o açúcar como a causa de doenças cardiovasculares.

Em 2015, a Coca Cola pagou a cientistas para divulgarem a mensagem de que o exercício físico era mais benéfico para a perda de peso do que a contagem de calorias. Criou inclusive uma organização não governamental – Global Energy Balance Network – para promover essa mensagem.

Em 2016, o Supremo Tribunal dos EUA considerou que a empresa de sumos POM Wonderful apresentava uma mensagem enganosa. A empresa pagou cerca de $35 milhões em estudos para demonstrar que o consumo do sumo POM Wonderful de Romã trata, previne e reduz o risco de doenças cardiovasculares, cancro da próstata e disfunção erétil. No entanto, não existem provas dessa capacidade.

As marcas do setor da alimentação recorrem a várias técnicas para se tornarem mais apelativas ao consumidor. No caso do McDonalds, existe uma ciência por detrás do próprio logótipo.

Cientificamente, está comprovado que a cor vermelha é estimulante e associada a estar ativo, aumentando o ritmo cardíaco e o próprio apetite. Já o amarelo representa felicidade e é a cor mais visível à luz do dia. Os dois arcos dourados ‘M’ foram dispostos de forma a serem visíveis a longas distâncias, até porque estudos comprovam que uma criança consegue reconhecer logótipos primeiro do que o seu próprio nome. Para atrair as crianças, criaram também um parque de diversões no interior, refeições direcionadas para o público mais jovem e ainda brinquedos oferecidos na compra de um happy meal. O McDonalds não atingiu o sucesso devido à sua comida saborosa, mas sim devido à sua capacidade de expansão e de marketing. Não se compra um hambúrguer, compra-se felicidade. A sua popularidade é tão grande que o símbolo do McDonalds é mais reconhecido do que o próprio crucifixo.

 

milenio stadium - capa - Fake News

 

Fake News

Quem controla a informação, controla as massas. A liberdade de imprensa e o próprio acesso à informação cria cidadãos informados. Contudo, uma grande parte do mundo ainda é governada pelo despotismo e autoritarismo de certos líderes que decidem, dependendo do que lhes é mais conveniente, qual a informação disponível.
Grande parte das democracias optou por criar organismos que garantam a independência e transparência dos meios de comunicação, existindo quotas máximas para evitar a monopolização dos canais de informação. Porém, países como a Eritreia, Cuba, China e Coreia do Norte continuam a recorrer à intimidação e assédio aos jornalistas, penalizando-os com penas de prisão e limitando o acesso à internet e a determinadas plataformas das redes sociais.

Recentemente, temos assistido à manipulação clara dos meios de comunicação por Vladimir Putin. Apesar de existir um aumento linear do nível de censura nos últimos 10 anos, em 2022 a Rússia levou a censura a novos extremos, reprimindo a cobertura da invasão na Ucrânia.

 

milenio stadium - lucas-hoang-VgU5zIEy57A-unsplash

 

Numa tentativa de conter o descontentamento e controlar a narrativa, no dia 4 de março Putin assinou uma lei que criminaliza qualquer oposição pública ou reportagem independente da guerra na Ucrânia. Agora, palavras como “guerra” ou “invasão” podem valer-lhes uma pena de prisão de 15 anos e a referência como traidores. Com receio das penalizações, os canais independentes viram-se obrigados a fechar portas. O governo também bloqueou o acesso, dentro da Rússia, dos principais canais em língua russa que operam fora do país – Voice of America, BBC, Radio Free Europe – e procedeu ao bloqueio de plataformas de redes sociais como o Facebook, Instagram e WhatsApp por considerar existir uma propaganda anti russa.

Enfrentando fortes sanções e isolamento a nível internacional, o Kremlin continua a narrar uma versão alternativa dos acontecimentos, alegando apenas agir perante ameaças à Rússia, numa operação militar especial de auxílio à população ucraniana contra forças nazis.

A lei aprovada por Putin pretende assegurar o apoio da população ao governo, limitando o acesso à informação dos canais estatais, sendo o único canal a que a maioria da população tem acesso, facilitando o processo de ‘brainwashing’ e controlando a opinião pública.

MILENIO STADIUM - Big Pharma

O papel da Big Pharma em testes clínicos

Como as empresas compram os estudos, os investigadores e, por fim, a indústria e a tua saúde.
Os dados recolhidos em testes clínicos são importantes para a aprovação de novos medicamentos e descoberta de novos tratamentos. Considerando que é a Big Pharma que garante os fundos para a maioria dos testes clínicos, as empresas farmacêuticas têm a possibilidade de fabricar resultados falsos ou esconder efeitos secundários perigosos, apenas para conseguir a aprovação do medicamento e aumentar as vendas. A cada ano que passa existem menos estudos independentes, e o custo para aprovar um novo medicamento varia entre $160 milhões e $2 biliões.

O New England Journal of Medicine publicou 73 estudos clínicos de novos medicamentos. Desses, 60 foram financiados por empresas farmacêuticas. Cinquenta tinham funcionários de empresas farmacêuticas entre os autores. E 37 investigadores tinham aceitado dinheiro de empresas farmacêuticas. O que significa que a maioria das empresas farmacêuticas domina e influencia a informação médica que é disponibilizada ao público.

O principal motivo que leva as empresas farmacêuticas a financiar estes estudos é para garantir que cumprem as regras necessárias para que esse medicamento seja aprovado nesse país. Ao financiarem os estudos, conseguem manipular esses estudos para uma visão mais positiva e favorável ao seu medicamento. Com uma indústria dominada por estudos manipulados, os próprios médicos não sabem o que estão a recomendar aos pacientes. Por exemplo, o medicamento Avandia mostrou-se efetivo para a Diabetes Tipo 2, no entanto esconderam o facto que aumenta o risco de ataque cardíaco.

Inês Carpinteiro/MS

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