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Longe, mas perto de Portugal

Longe, mas perto de Portugal-mundo-mileniostadium
Monumento de Luís de Camões na Avenue des Camoëns, em Paris, na França. Crédito: DR

 

A tecnologia encurtou as distâncias físicas e hoje é mais fácil viver no estrangeiro e manter o contacto com Portugal. A partir do momento em que se escolhe outro país para viver, a relação com o Estado e com as instituições portuguesas muda?

Os emigrantes portugueses são dos que mais contribuem com remessas para os cofres do Estado português. Mas será que o Estado reconhece o seu contributo económico, social e cultural? Esta semana o Milénio Stadium falou com vários emigrantes e lusodescendentes que regra geral mantêm uma ligação a Portugal. Se por um lado há quem garanta que se tornou mais português a viver no estrangeiro, também há quem assegure que é impossível ser mais português mesmo tento nascido no Canadá. 

Em 2019 Portugal passou para o segundo lugar da tabela de União Europeia dos países com maior valor de remessas em dinheiro de residentes no estrangeiro. Segundo a Eurostat o país recebeu 3,645 mil milhões de euros provenientes de residentes no estrangeiro. Na Europa o país que está acima da tabela é a Roménia com 3.682 milhões de euros.

Em 2019 o Governo português lançou o programa Regressar, um programa que tinha como objetivo fazer com que emigrantes e lusodescendentes voltassem a Portugal. Segundo os dados que foram divulgados em fevereiro 1.300 pessoas voltaram para Portugal através deste programa. Cerca de 80% das pessoas tinha menos de 44 anos, cerca de 70% tinham emigrado entre 2011 e 2015 e 47% tinha ensino superior.

Em novembro o ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu que o Estado português vai manter todos os subsídios a clubes e a associações da diáspora que ficaram impedidas de realizar atividades devido à pandemia. Entretanto esta semana os consulados portugueses divulgaram que perderam um terço das receitas deste ano devido à pandemia. O Estado estava a contar com $40 milhões de euros nos cofres, mas as restrições nas viagens e a crise económica diminuíram as emissões de passaportes e de vistos e o Governo português estima faturar apenas $40 milhões de euros.

Joana Leal/MS


  • Kátia Caramujo, 32 anos

Como lusodescendente, como é que te sentes vivendo fora de Portugal?

Sempre tive uma ligação muito forte com Portugal, apesar de não ter nascido lá e de ter vivido lá poucos anos da minha infância. Sinto imensas saudades da minha aldeia e da minha família que reside lá e em outros países da Europa, sendo que o nosso ponto de encontro é sempre no verão – este ano não houve esse reencontro devido à pandemia. Penso que é muito fácil hoje em dia manter essa ligação forte – posso ouvir as rádios portuguesas, ver os programas de televisão portugueses, comprar produtos portugueses – sem ter de ir a Portugal! Apesar de nunca ser igual a estar lá fisicamente, dá para nos manter ligados ao lado de lá.

Identificas-te com a cultura portuguesa?

Identifico-me imenso com a cultura portuguesa desde muito pequena. Pedi aos meus pais para me inscreverem na escola portuguesa porque queria saber falar, ler e escrever em português, dancei 15 anos no rancho folclórico e fiz e ainda faço parte de várias associações portuguesas. Vibro ao ver a nossa seleção a jogar, tento aprender com a minha mãe a cozinhar pratos típicos da nossa culinária e apesar de adorar conhecer o mundo tento sempre “dar um pulo” a Portugal para matar as saudades.

Há algo que o Governo português e os representantes aqui no Canadá possam fazer para que te sintas mais portuguesa?

Sinto-me privilegiada por residir em Toronto, uma das cidades mais multiculturais do mundo. Na minha opinião seria difícil o Governo português e os representantes aqui no Canadá fazerem mais para que me sinta mais portuguesa. Temos e tivemos vozes fortes a vários níveis de governo que têm uma voz ativa no que diz respeito à cultura portuguesa. Melhor do que isto só se fosse sentir o cheiro da praia da Tocha todas as manhãs!


  • Marcelino Martins, 51 anos

Como lusodescendente, como é que te sentes vivendo fora de Portugal?

Gosto muito do lugar onde eu moro em Nova Iorque. Portugal é maravilhoso e tenho lá família e amigos de quem tenho muitas saudades, mas prefiro apreciar o que tenho aqui do que sentir falta do que deixo lá.

Identificas-te com a cultura portuguesa?

Identifico-me mais com a cultura portuguesa morando fora. Quando vivia em Lisboa não sentia o paradigma de alfacinha, mas no estrangeiro são mais visíveis as coisas que me fazem português. Gosto muito que me perguntem aqui sobre Portugal.

Há algo que o Governo português e os representantes aqui no Canadá possam fazer para que te sintas mais português?

Gostaria de ter um pouco menos de burocracia para obter a nacionalidade portuguesa para as minhas filhas.


  • Juliana Pedrosa, 33 anos

Como lusodescendente, como é que te sentes vivendo fora de Portugal?

Não sou lusodescendente, nasci em Portugal. Sempre tive vários familiares emigrados e quando falavam da saudade de Portugal não imaginava o que era. Quando me mudei para o Canadá compreendi o termo da palavra “saudade” intrínseca ao emigrante. Uma saudade que não se consegue explicar, apenas se sente. A falta da brisa do mar. As tardes solarengas de inverno que trazem esperança numa primavera. Ser portuguesa é isto, viver fora do país que me viu crescer e viver com uma saudade imensa, mas com esperança de regressar.

Identificas-te com a cultura portuguesa?

A cultura portuguesa está e vai estar sempre presente no meu dia a dia. Tento expressar-me sempre que posso na minha língua materna. Em casa também se fala português (com alguns anglicismos) mas pretendo continuar com as minhas raízes portuguesas bem vivas.

Há algo que o Governo português e os representantes aqui no Canadá possam fazer para que te sintas mais portuguesa?

Na minha opinião o Governo português tem que melhorar o seu elo de ligação com as comunidades portuguesas. Agora estamos numa situação sem precedente, mas espero que no futuro não se esqueçam da diáspora portuguesa e que tentem compreender a emigração do século XXI. Precisamos de alimentar o que fomos, mas de exaltar o que somos agora! Existe muito preconceito em Portugal relativamente a emigração, mas foi este fenómeno que contribuiu e continua a contribuir para o crescimento económico de Portugal.


  • Joel Bastos, 31 anos

Como lusodescendente, como é que te sentes vivendo fora de Portugal?

Posso dizer que reconheço o Canadá como o meu país. Portugal passou a ser o meu destino de férias, aquele no qual tenho as minhas raízes, alguma da minha família e amigos. É também o país que me viu nascer e crescer e claro continuará sempre a ser o “meu” país com tudo o que “meu” significa.

Identificas-te com a cultura portuguesa?

A cultura portuguesa é algo que me foi incutido desde muito novo e claro crescendo eu em Portugal acho que as raízes falam sempre mais alto. Desde a gastronomia aos costumes, do folclore ao meu Braga… desde as festas populares à música … tudo isso faz parte de mim e continuará a fazer nos próximos anos.

Há algo que o Governo português e os representantes aqui no Canadá possam fazer para que te sintas mais portuguesa?

Acho que pouco podem fazer, jugo que a melhor resposta a essa pergunta é congratular todas as associações comunitárias portuguesas, sem exceção, pelo excelente trabalho que estão a fazer. É muito duro ver algumas delas neste tempo de pandemia a sentirem as dificuldades que têm e muita das vezes sem receberem qualquer tipo de apoio, mas sei que vão voltar mais fortes e que irão preparar atividades fantásticas para a comunidade. Por isso os meus aplausos e parabéns vão para todos eles porque são mais do que merecidos!

 

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