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“Já me foram feitas perguntas que tenho a certeza nunca me seriam colocadas se eu fosse um homem” – Ana Bailão

MILENIO STADIUM - Ana_Bailao_Photo

 

Ana Bailão, um nome de destaque e que com certeza você, seja da comunidade portuguesa ou não, já ouviu falar. Há 12 anos ela foi eleita pela primeira vez vereadora de Toronto e ocupa desde 2017 a função de vice-presidente da Câmara Municipal da cidade, lugar nunca antes alcançado por nenhuma mulher luso-canadiana.

Foi reeleita em 2018 com o apoio de mais de 80% dos moradores de sua comunidade, a maior margem de vitória para qualquer vereador da cidade de Toronto. Uma mulher pioneira e acostumada à desafios desde cedo.

Aos 15 anos viu a vida se transformar por completo, ao deixar Alenquer, em Lisboa, e se mudar com a família ao Canadá, mais precisamente para o bairro de Davenport, em Toronto. Aqui terminou os estudos secundários e se formou em sociologia na prestigiada Universidade de Toronto. Começou a carreira profissional no setor privado, porém sempre se manteve atuante junto à comunidade. Assim, foi natural o interesse e gosto pela vida política, onde além de vice-autarca também preside o Comitê de Habitação Social.

Nesta edição, em que conversamos e destacamos personalidades femininas relevantes à sociedade, além de buscarmos saber como percebem a atual situação da mulher, sejam os avanços já conquistados ou as lutas que ainda travamos, não poderíamos deixar de trazer a contribuição de Ana Bailão, mulher luso-canadiana que inspira a tantas outras, com seu percurso de trabalho e representatividade.

Milénio Stadium: Você é um nome de destaque da comunidade luso-canadiana no setor da política e alcançou posições que até então nenhuma outra mulher da comunidade havia atingido. Como se sente em relação a isso, existe uma maior responsabilidade?
Ana Bailão: Sinto o peso da responsabilidade e o privilégio de poder dedicar o meu tempo e energia a projetos que sinto têm um impacto significativo e positivo na vida das pessoas. Fazer aquilo de que se gosta e em que se acredita é um sentimento extraordinário e todos deveriam ter essa oportunidade. Infelizmente, esta oportunidade ainda não é apresentada a todos na nossa sociedade. Quantas mulheres ou minorias étnicas são ainda impedidas/os de fazer aquilo que gostam e que têm capacidades incríveis devido a preconceitos e discriminação? Por isso, temos que motivar, falar dos assuntos e criar oportunidades para que todos possam fazer aquilo que realmente gostam pois é daí que resulta o sucesso de cada um.

MS: A presença de mulheres no cenário político já é muito mais expressiva do que foi no passado, porém ainda é preciso alcançar mais. Como você avalia esse progresso e as batalhas que as mulheres ainda enfrentam nessa área?
AB: Embora muitos avanços tenham sido feitos, a realidade é que ainda temos um largo caminho a percorrer. Por exemplo, na Câmara Municipal de Toronto ainda temos menos de 30% de mulheres na Assemblea Municipal. Quando somos 50% da população, e há mais mulheres a terminarem estudos superiores, é evidente que ainda existem obstáculos que têm que ser eliminados.

MS: Já sentiu alguma discriminação ou dificuldade específica no seu trabalho, ou na vida, por ser mulher?
AB: Sim, várias vezes. Embora tenha notado uma diferenca significativa desde a primeira vez que concorri, a verdade é que, por exemplo, em reuniões públicas já me foram feitas perguntas que tenho a certeza nunca me seriam colocadas se eu fosse um homem.

MS: A sua carreira de sucesso com certeza serve de inspiração para muitas outras mulheres. Quais são as mulheres que te inspiram ou inspiraram?
AB: A mulher que mais me inspirou na minha vida foi a minha avó.

MS: Acha que o país e a sociedade em si se beneficiaram se tivéssemos mais mulheres em posições estratégicas e de liderança?
AB: Absolutamente. Aliás há vários estudos que provam que empresas que têm mais representação feminina nas suas direções têm melhores resultados económicos etc. Isto não se trata apenas de opinão pessoal, há estudos que o provam.

MS: A maternidade ainda é uma questão que impacta na carreira de muitas mulheres. Acha que falta um maior apoio ou preparo de empregadores para lidar com essa questão?
AB: Há cada vez mais uma participação paternal na nossa sociedade, mas sabemos que na grande maioria são as mulheres que ainda hoje têm a maior parte da responsabilidade. Por isso, é cada vez mais importante que os empregadores tratem com total igualdade e imparcialidade licenças de maternidade e paternidade e é necessário que os governos invistam cada vez mais na educação infantil (Ontário infelizmente é a única província que ainda não assinou o acordo com o Governo Federal para termos $10/dia creche).

MS: Como avalia o papel atual da mulher na sociedade e as contribuições que têm sido feitas?
AB: Uma caminhada extraordinária feita por tantas ao longo dos anos que tem beneficiado toda a sociedade em geral mas com desafios e obtáculos ainda pela frente que têm de ser enfrentados com a mesma determinação e persistência das que nos abriram caminho.

Lizandra Ongaratto/MS

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