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Exposição dos 500 anos dos Romeiros de S. Miguel patente ao público em Toronto

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A Peach Gallery, em Toronto, inaugura ao público na próxima quinta-feira (5 de maio), uma exposição de fotografia intitulada “500 anos de Romeiros de S. Miguel” (tradução livre). A mostra, da autoria de Joseph Amaral, um fotógrafo sediado em Hamilton, Ont, pode ser vista até 29 de maio e conta com o patrocínio do Governo Regional dos Açores e da Associação de Estudos Lusófonos da York University.

Segundo o historiador Gaspar Frutuoso, os romeiros da ilha de São Miguel, Açores, surgiram no século XVI, depois de fortes crises sísmicas que se fizeram sentir na ilha. O historiador micaelense refere-se aos às erupções vulcânicas e aos sismos na sua obra como “castigos” e as romarias seriam então uma forma de apelar à piedade do divino.

De acordo com esta tradição, que perdura até aos dias de hoje, dezenas de homens, divididos em ranchos, percorrem a ilha na altura da Quaresma para pagar uma promessa que pode ter sido feita pelos próprios ou por alguém que, por algum motivo em concreto, não é capaz de a cumprir. Os romeiros rezam junto de todas as igrejas que têm um altar dedicado à Virgem e estes grupos de indivíduos existem em quase todas as paróquias e freguesias da Ilha de São Miguel.

As romarias pela ilha acontecem todos os anos e duram oito dias durante a Quaresma. Segundo a direção da cultura do Governo Regional dos Açores, os grupos formam-se nas próprias paróquias ao longo do ano e têm uma organização interna própria. As visitas a igrejas, ermidas e capelas da ilha, as chamadas de Casas de Nossa Senhora, incluem, de acordo com o governo, a ida a cerca de 100 lugares de culto, distribuídos por 64 freguesias e 65 paróquias de São Miguel.

A prática não existe em nenhuma das outras ilhas açorianas e com a emigração dos habitantes de São Miguel a tradição acabou por ser levada para outras paragens. Para além da origem do ritual, outro dos aspetos curiosos é o traje do romeiro e o seu significado. O romeiro leva na sua caminhada vários elementos: bordão, xaile, lenço, saco de pano ao ombro e dois terços. Um dos terços é colocado à volta do pescoço e o outro na mão para que possa rezar durante toda a romaria. O bordão auxilia na caminhada, até porque alguns dos caminhos são acidentados, e o xaile e o lenço protegem do frio e das tempestades. No saco de pano os romeiros levam alguns alimentos para consumirem durante a caminhada.

Uma explicação mais religiosa será a de que o bordão faz lembrar o cetro entregue a Cristo pelos romanos no seu julgamento; o xaile, a sua túnica; lenço, a coroa de espinhos e o saco de pano, a cruz a caminho do calvário. Dentro da estrutura interna dos romeiros existe uma hierarquia com cargos específicos: o mestre, o contramestre, o procurador das almas, o lembrador das almas, dois guias, e dois ou mais ajudantes, entre estes um despenseiro. O mestre e o contramestre são nomeadas pelo pároco da localidade e o resto dos cargos são nomeados pelo mestre.

Quem orienta o rancho é o mestre e é a ele que cabe a preparação espiritual e logística para receber o grupo. Se por algum motivo o mestre estiver ausente, cabe ao contramestre assumir as funções do mestre. Em circunstâncias normais o contramestre é uma espécie de braço direito do mestre. Relativamente ao procurador das almas, cabe a ele receber a lista das orações que foram pedidas pelas pessoas durante a romaria. O lembrador das almas pede orações especiais dentro da romaria e deve fazê-lo quando o grupo passa pelos cemitérios.

Os guias conduzem o rancho pelo itinerário que foi definido previamente e aos ajudantes cabe o papel de prestar auxílio ao mestre a fazer orações nas igrejas e na romaria. Já os despenseiros são responsáveis por coordenar as refeições e as bebidas. O mestre surge no fim do grupo e o contramestre segue à frente. Destaque ainda para o menino da cruz, uma criança que tem de transportar uma pequena cruz que acompanha toda a romaria.

Quando chega a hora de pernoitar em cada uma das freguesias, cada família leva para casa um ou mais romeiros para lhes dar hospedagem. No dia a seguir, os romeiros levantam-se muito cedo, agradecem a solidariedade da família que o acolheu e o grupo segue viagem até ao destino final.

As famílias providenciam refeições, bebidas e água quente com sal para ajudar com as feridas dos pés dos romeiros e uma das principais orações dos romeiros é a “Avé Maria dos Romeiros”. Um rancho de romeiros tanto pode ter 30 como 200 pessoas.

Joana Leal/MS

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