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Banco do Canadá terá de continuar a aumentar taxas de juro

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A taxa de inflação do Canadá atingiu os 7,7% em maio, a mais elevada dos últimos 39 anos. Os dados foram revelados pela Statistics Canada na quarta-feira (22) e revelam que o aumento dos preços dos combustíveis, alimentos e guerra na Ucrânia foram os principais responsáveis por este novo recorde.

Com estes números crescem as preocupações sobre uma eventual recessão económica, mas a resposta pode não ser assim tão óbvia. As recessões são normalmente caracterizadas pelo declínio da atividade económica (PIB) durante dois trimestres sucessivos e elevadas taxas de desemprego. Ora estes são dois indicadores que pelo menos até agora ainda não se verificam no Canadá. Apesar de uma ligeira contração do PIB em maio de 0,3%, a Statistics Canada antecipa um aumento de 0,7% para junho.

No mês passado a taxa de desemprego nacional estava nos 5,1%, a mais baixa de sempre na história do país.
Pedro Antunes, economista chefe da Conference Board of Canada, uma think tank canadiana sem fins lucrativos que se dedica à análise de tendências económicas, adiantou em entrevista ao Milénio Stadium que “ninguém sabe ao certo como esta situação irá evoluir”, mas mantém a confiança de que o Banco do Canadá vai conseguir fazer com que a inflação volte aos 2 ou 3% até ao próximo ano.

Os Conservadores têm vindo a pressionar o Governo de Trudeau para cortar os impostos sob os combustíveis, um caminho que o Presidente dos EUA, Joe Biden, também está a pedir ao Senado para seguir.

A proposta do Presidente americano é para que os impostos sobre gasolina e gasóleo sejam suspensos durante três meses. A medida não conta com a aprovação de todos que defendem que preços mais baixos levam a um aumento da procura e por conseguinte causam ainda mais escassez de oferta que por sua vez leva a um novo aumento de preços.

Opinião semelhante tem a Conference Board of Canada que defende que “a solução não é apontar o preço de itens específicos”, mas antes deixar o mercado autorregular-se sozinho, tal como Adam Smith propunha na sua teoria da mão invisível.

Sobre o endividamento do país provocado pelas despesas extra geradas durante a pandemia de COVID-19 e pela recente guerra na Ucrânia que está a obrigar os aliados a investirem mais em defesa, o economista alerta que menos disponibilidade financeira afeta tanto canadianos como os moradores de países em vias de desenvolvimento.

milenio stadium - The Conference Board of Canada FacebookMilénio Stadium: Estamos a viver uma nova crise económica mundial alimentada pela pandemia de COVID-19, aumento dos preços da energia, alimentação, taxas de juro, inflação e guerra na Ucrânia. Quanto tempo pode durar esta crise e quais poderão ser as suas consequências?
Pedro Antunes: Tem sido assustador a rapidez com que a inflação acelerou no último ano. Na quarta-feira (22), o Statistics Canada informou que em maio, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) subiu 7,7 em comparação com maio de 2021. Este é um ritmo de inflação a que não assistimos desde 1983. As consequências são que a inflação está a corroer rapidamente o poder de compra dos canadianos, e o Banco do Canadá terá de continuar a aumentar as taxas de juro, o que irá prejudicar ainda mais aqueles endividados. Ninguém sabe ao certo como esta situação irá evoluir, mas esperamos que as pressões inflacionistas (especialmente as associadas às questões da cadeia de abastecimento e aos preços elevados das matérias-primas) se resolvam. Isto deverá ajudar a estabilizar a inflação e começar a diminuir nos próximos meses. Assumimos que o Banco do Canadá será bem-sucedido em trazer a inflação de volta à meta (entre 2 e 3%) até ao próximo ano.

MS: O Banco do Canadá optou por aumentar as taxas de juro de referência para tentar domar a inflação, mas alguns críticos dizem que precisamos de combustível mais barato. Qual é a opinião da Conference Board of Canada?
PA: Os custos de transporte e o aumento dos preços dos combustíveis estão certamente a contribuir para os números elevados da inflação, mas a solução não é apontar o preço de itens específicos. É melhor deixar o mercado ajustar-se, tanto a oferta como a procura, a esses preços elevados. Se os governos estão preocupados com o impacto da inflação em agregados familiares específicos, digamos agregados familiares com baixos rendimentos, então a melhor abordagem é fornecer apoios de rendimento específicos.

MS: Se os países ricos estão a gastar mais com a defesa, a NATO e a guerra da Ucrânia, isso significa que não vão ter a mesma disponibilidade financeira para ajudar os países em desenvolvimento. Isso significa que podemos esperar ainda mais insegurança alimentar, fome e pobreza em todo o mundo?
PA: Não há dúvida de que a situação fiscal na maioria das economias desenvolvidas tem sido esticada. A pandemia resultou numa adição maciça à dívida pública global, a guerra na Ucrânia resultará em despesas públicas adicionais na defesa e, presumo, no esforço de reconstrução na Ucrânia. Taxas de juro mais elevadas e aperto quantitativo vão acrescentar ainda mais pressão fiscal à medida que o custo do serviço da dívida aumenta. Portanto, sim, concordo, as economias desenvolvidas e em desenvolvimento estão a enfrentar duros desafios fiscais e a sua capacidade de gastar é muito restringida em comparação à que tinham antes da pandemia.

MS: Podemos assumir que as próximas gerações de canadianos vão ter de aprender a viver com menos recursos?
PA: Se não formos capazes de controlar os défices, então há um custo que é passado para as gerações futuras. Mas o rendimento real per capita tem aumentado de forma constante no Canadá e a nível global, certamente ao longo das últimas três décadas. Pensamos que os rendimentos reais vão continuar a aumentar, mas a um ritmo mais modesto no futuro.

Joana Leal/MS

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