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Análises sanguíneas revelam mutações em astronautas da NASA

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NASA astronaut Victor Glover wears a jacket with the NASA patch on it, at the Johnson Space Center’s System Engineering Simulator facility in Houston, Texas, on August 5, 2022. (Photo by Mark Felix / AFP)

 

Um estudo recente concluiu que o sangue dos astronautas pode apresentar sinais de mutações somáticas devido ao voo espacial, devendo ser feita uma monitorização em relação ao risco de cancro. Numa altura em que a NASA aposta no programa de regresso à lua “Artemis”, cuja descolagem tem sido adiada sucessivamente devido a falhas técnicas, os resultados deste estudo podem provar-se úteis para missões futuras.

Os investigadores recolheram amostras sanguíneas de 14 astronautas do programa “Space Shuttle” da NASA que participaram, entre 1998 e 2001, em missões com uma duração média de 12 dias. Foram realizadas duas recolhas aos participantes, dos quais 85% eram homens e seis partiam na primeira missão para a agência espacial. O estudo, citado pelo jornal britânico “Daily Mail”, foi publicado a 17 de agosto na revista científica “Nature Communications Biology”.

A primeira recolha foi feita 10 dias antes do voo espacial e a segunda no dia de aterragem de volta à Terra. Além disso, foram ainda recolhidos glóbulos brancos três dias após a chegada. As amostras foram criopreservadas durante 20 anos, a 80 graus celsius negativos.

“Os astronautas trabalham num ambiente extremo, onde muitos fatores podem resultar em mutações somáticas, principalmente devido à radiação espacial, o que significa que existe o risco destas mutações evoluírem para hematopoiese clonal [fenómeno relacionado com o envelhecimento, em que há a formação de uma subpopulação geneticamente distinta de células sanguíneas] “, explicou o principal autor do estudo, David Goukassian, professor de cardiologia no Instituto de Investigação Cardiovascular de Icahn Mount Sinai, em Nova Iorque.

“Dado o crescente interesse em voos espaciais tanto comerciais como de exploração profunda, e os potenciais riscos para a saúde da exposição a vários fatores nocivos que estão associados a missões repetidas ou de longa duração – como uma viagem a Marte – decidimos investigar, retrospetivamente, mutações somáticas”, justificou.

Risco de cancro do sangue

As mutações identificadas no estudo foram caracterizadas pela super representação de células sanguíneas derivadas de um único clone – processo denominado de hematopoiese clonal. Através de sequenciamento de ADN e análise bioinformática, foram identificadas 34 mutações em 17 genes controladores de hematopoiese clonal.

As mutações mais comuns ocorreram no TP3, um gene que produz uma proteína supressora de tumor, e no DNMT3A, um dos genes mais frequentemente mutados na leucemia mieloide aguda. Embora as mutações fossem muitas para a idade dos astronautas, os investigadores garantiram que continuavam abaixo do limiar preocupante.

Diferentes tipos de cancro do sangue, incluindo a leucemia mieloide crónica, são exemplos de hematopoiese clonal. As mutações somáticas ocorrem quando uma pessoa é concebida e em células que não sejam sexuais, o que significa que não podem ser passadas para as gerações futuras.

“A presença destas mutações não significa necessariamente que os astronautas vão desenvolver doenças cardiovasculares ou cancro, mas existe o risco de, com o tempo, isso acontecer através da exposição contínua e prolongada ao ambiente extremo do espaço profundo”, relativizou Goukassian.

Este tipo de estudo pode ser usado para avaliar a suscetibilidade dos astronautas a doenças, sem afetar a sua capacidade de trabalhar. Os investigadores recomendam que a NASA examine os astronautas a cada três a cinco anos, e também após a reforma – precisamente quando estas mutaçoes podem evoluir. A equipa médica da agência deve estar atenta a sinais de mutações somáticas e à possível expansão, ou regressão, clonal.

“O importante agora é realizar estudos longitudinais retrospetivos e prospetivos (bem controlados), envolvendo um número elevado de astronautas, para ver como o risco evolui com base na exposição contínua e, de seguida, comparar esses dados com sintomas clínicos, imagens e resultados de laboratório”, disse Goukassian, acrescentando que, assim, será possível “fazer previsões informadas sobre quais indivíduos são mais propensos a desenvolver doenças e abrir portas para abordagens individualizadas de medicina de precisão para intervenção e prevenção precoces”.

Recuperação óssea incompleta

Esta investigação surge dois meses após um outro estudo ter demonstrado que os astronautas que participam em voos espaciais com duração superior a três meses podem mostrar sinais de recuperação óssea incompleta, mesmo depois de estarem um ano inteiro na Terra.

“Descobrimos que os ossos de sustentação de peso recuperaram apenas parcialmente na maioria dos astronautas um ano após o voo espacial”, disse Leigh Gabel, professor assistente de Cinesiologia e principal autor do estudo. “Isso sugere que a perda óssea permanente devido a um voo espacial é aproximadamente a mesma que a perda óssea por evelhecimento de uma década na Terra”, comparou.

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