Açores

Produção de batata em risco

Os elevados custos de produção e a não existência de armazenagem “adequada” estão a fazer diminuir o investimento dos agricultores micaelenses na produção de batata inglesa.

Depois do ano 2018 que ficou marcado por grandes quebras na produção, devido à seca registada ao longo de vários meses, para o corrente ano perspectivam-se novas quebras. Quem o avança é o Presidente da Associação Terra Verde, Manuel Ledo, em declarações ao Diário dos Açores.

“Os custos de produção da batata inglesa aumentaram. O preço da batata de semente subiu consideravelmente e há muitos produtores que já manifestaram na associação a intenção de iriam fazer outras culturas sem ser a batata inglesa e aposta, talvez, na batata-doce. Muito possivelmente, este ano, vai haver uma quebra na produção de batata [inglesa]”, diz o responsável.

Além dos custos, falta também um local “em condições” para os produtores armazenarem a batata, acrescenta Manuel Ledo: “Neste momento, ainda não temos um armazém em condições, com frio, para guardar as batatas, para que depois fossem colocadas à venda, fora da época do pico de produção, por um preço acessível ao consumidor e bom para o produtor”.

“A Associação Terra Verde tem uns armazéns com capacidade onde até dava para armazenar a produção actual, mas não têm frio, o que leva a que se desenvolvam muitas doenças nas batatas. Por exemplo, a traça – conhecida como o bicho da batata -, se tiver um choque de frio não se vai desenvolver. Sem ser em temperaturas frias, a traça desenvolve-se de tal maneira que ‘dá cabo’ da batata, ficando as mesmas sem condições para consumo”, explica o Presidente da Terra Verde.

Ou seja, “havendo um armazém nestas condições que a associação está a defender, os produtores produziriam mais, mesmo com os custos de produção elevados, e correriam menos riscos”, pois conseguiriam fazer escoar a batata meses mais tarde, frisa Manuel Ledo.

Segundo o Presidente, a associação irá tentar negociar os custos de produção com os fornecedores da batata de semente ou, em alternativa, pedir apoio ao governo, porque “nunca poderemos deixar de produzir batata. Temos é que criar condições para que os nossos agricultores consigam-na produzir”.

“Podemos vir a recorrer também ao próprio Secretário [Regional da Agricultura e Florestas] para que se consiga algum tipo apoio, seja para o transporte, um valor integrado no Posei, ou outras verbas quaisquer que façam com que a batata continue a ser produzida cá”, afirma Manuel Ledo.

Produtores não conseguem competir com preços de batata importada

O “lógico” seria que estes elevados custos com a produção levassem a que o preço de venda ao consumidor disparasse. No entanto, na Região, nem sempre isso acontece. “Se os custos de produção aumentam, é lógico que o preço de venda da batata ao consumidor acabe por aumentar também. Mas, muitas vezes, isso cá não acontece, pois temos à venda batata de fora que é vendida a preços mais baixos. Logo, o produtor micaelense não consegue fazer escoar a sua batata a bom preço e, para não perder tudo, vende quase a custo de produção”.

“O que nos interessa é que os nossos produtores consigam viver com dignidade. Para trabalhar para aquecer, temos os ginásios…”, diz, com ironia. Aposta na produção de batata-doce para enviar para o continente Por outro lado, a Associação Terra Verde tem incentivado os agricultores a apostar na batata-doce para enviar para o continente. A ideia passa por aproveitar os terrenos da beterraba e do tabaco que deixaram de ser cultivados.

“Ficamos sem a fábrica da Sinaga e os terrenos onde se produzia a beterraba deixaram de ser cultivados. Também o tabaco já está a desaparecer – julgo que, este ano, só uns dois produtores é que irão continuar a cultivar, mas ainda não confirmaram. E a nossa ideia é aproveitar estes terrenos para apostar numa cultura que possamos depois enviar para o continente, como é o caso da batata-doce”.

A este propósito, a Terra Verde tem programada para Junho uma visita a Aljezur, “uma zona do continente onde se produz muita batata-doce e queremos ver que ‘know-how’ têm”. A intenção é também estabelecer parcerias com uma cooperativa lá existente, “de modo a que possam vir a ficar com a nossa batata doce”.

“Eles, no continente, ficariam a ganhar connosco, porque em São Miguel conseguimos ter batata dois meses antes da produção deles. Estes dois meses fariam toda a diferença para enviarmos os nossos produtos”.

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Fonte
Diário dos Açores

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