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Entenda o conflito do Sudão, onde dois generais lutam pelo controle do país

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Chefe do Exército sudanês, general Abdel Fattah al-Burhan, e líder do RSF, general Mohamed Hamdan Dagalo – Getty Images/CNN

Líder militar Abdel Fattah al-Burhan e comandante das Forças de Apoio Rápido, Mohamed Hamdan Dagalo, se enfrentam em um confronto que já deixou centenas de mortos.

Os combates ferozes no Sudão deixaram em frangalhos as esperanças de uma transição pacífica para o governo civil. Forças leais a dois generais rivais estão competindo pelo controle e, como costuma acontecer, os civis foram os que mais sofreram, com dezenas de mortos e centenas de feridos.

Organizações de médicos e várias testemunhas oculares disseram que as instalações médicas estão sendo bombardeadas com ataques militares em ataques direcionados, enquanto os confrontos entre o exército sudanês e os paramilitares aumentam pelo terceiro dia. Posteriormente, em comentários à CNN, ambos os lados negaram bombardeios a hospitais.

Nesta terça-feira (18), os comandantes das forças rivais concordaram com um cessar-fogo de 24 horas a partir da noite, disse o Exército, após ligações do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, para cada lado. No entanto, a esperança de uma paz duradoura segue distante.

Aqui está o que você precisa saber.

Uma briga pelo poder está no centro da luta

No centro dos confrontos estão dois homens: o líder militar do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, e o comandante das Forças de Apoio Rápido (RSF, na siga em inglês) paramilitares, Mohamed Hamdan Dagalo.

Até recentemente, eles eram aliados. A dupla trabalhou junto para derrubar o presidente sudanês deposto Omar al-Bashir em 2019 e desempenhou um papel fundamental no golpe militar em 2021.

No entanto, surgiram tensões durante as negociações para integrar a RSF nas forças armadas do país como parte dos planos para restaurar o governo civil. A questão-chave: quem estaria subordinado a quem sob a nova hierarquia.

Essas hostilidades, disseram fontes à CNN, são o culminar do que ambas as partes veem como uma luta existencial pelo domínio.

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Fumaça sobe de incêndio na região do aeroporto de Cartum, no Sudão / Abdullah Abdel Moneim/via REUTERS

O Sudão não é estranho à agitação

É difícil exagerar o quão sísmica foi a derrubada de Bashir. Ele liderou o país por quase três décadas, quando os protestos populares que começaram devido ao aumento dos preços do pão o derrubaram do poder.

Durante seu governo, o Sudão do Sul se separou do norte enquanto o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão para Bashir por supostos crimes de guerra em Darfur, uma região ocidental separatista.

Após a expulsão de Bashir, o Sudão foi governado por uma aliança incômoda entre os grupos militares e civis.

Tudo isso acabou em 2021, quando o governo de divisão do poder foi dissolvido pelas forças armadas.

A RSF tem um passado controverso

As Forças de Apoio Rápido são o grupo paramilitar proeminente no Sudão, cujo líder, Dagalo, teve uma rápida ascensão ao poder.

Durante o conflito de Darfur no Sudão no início dos anos 2000, ele era o líder das notórias forças Janjaweed do Sudão, implicadas em violações dos direitos humanos e atrocidades.

Um clamor internacional viu Bashir formalizar o grupo em forças paramilitares conhecidas como Unidades de Inteligência de Fronteira.

Em 2007, suas tropas passaram a integrar os serviços de inteligência do país e, em 2013, Bashir criou a RSF, grupo paramilitar comandado por ele e liderado por Dagalo.

Dagalo se voltou contra Bashir em 2019, mas não antes de suas forças abrirem fogo contra um protesto pró-democracia anti-Bashir em Cartum, matando pelo menos 118 pessoas.

Mais tarde, ele foi nomeado deputado do Conselho Soberano de transição que governou o Sudão em parceria com a liderança civil.

Os dois rivais se espelham

Burhan é essencialmente o líder do Sudão. Na época da queda de Bashir, Burhan era o inspetor geral do exército. Sua carreira seguiu um curso quase paralelo à de Dagalo.

Ele também ganhou destaque nos anos 2000 por seu papel nos dias sombrios do conflito de Darfur, onde acredita-se que os dois homens tenham entrado em contato pela primeira vez. Al-Burhan e Dagalo consolidaram sua ascensão ao poder bajulando as potências do Golfo.

Eles comandaram batalhões separados de forças sudanesas, que foram enviados para servir com as forças de coalizão lideradas pela Arábia Saudita no Iêmen. Agora eles se encontram presos em uma luta pelo poder.

‘Tentativa de golpe’

Falando à CNN, Burhan caracterizou a ofensiva da RSF como uma “tentativa de golpe”.

“Esta é uma tentativa de golpe e rebelião contra o estado”, disse Burhan à CNN por telefone. Ele disse que o líder da RSF, Dagalo, havia “se amotinado” contra o estado e, se capturado, seria julgado em um tribunal. Burhan alegou na entrevista à CNN que a RSF tentou “me capturar e me matar”.

Quando questionado sobre essa alegação, um porta-voz da RSF disse à CNN que o grupo estava “tentando capturá-lo” e levá-lo à justiça por “muitos atos de traição contra o povo sudanês”. “Estamos lutando por todos os sudaneses”, disse o porta-voz em comunicado. “Nós [vamos] levar todas as partes responsáveis à justiça e dar-lhes um julgamento justo”.

Quando questionado sobre por que o povo sudanês deveria confiar nele, dada sua antiga aliança com Dagalo, Burhan disse à CNN: “O Exército Sudanês é o exército do povo. “Não é de propriedade de pessoas específicas ou organizações específicas”, disse ele. “É uma instituição nacional, encarregada de defender o Sudão.”

O Sudão enfrenta um futuro incerto

Onde a luta terminará não está claro. Ambos os lados reivindicam o controle de locais-chave e combates foram relatados em todo o país em lugares distantes da capital Cartum.

Enquanto várias estimativas oficiais e não oficiais mostrem que as forças armadas sudanesas tenham cerca de 210-220 mil combatentes, acredita-se que a RSF tenha aproximadamente 70 mil, mas são mais treinados e melhor equipados.

As potências internacionais expressaram preocupação, com o Conselho de Segurança da ONU realizando sua primeira reunião sobre a crise no Sudão na segunda-feira. Além das preocupações com os civis, provavelmente existem outras motivações em jogo – o Sudão é rico em recursos e estrategicamente localizado.

A CNN relatou anteriormente como a Rússia conspirou com os líderes militares do Sudão para contrabandear ouro para fora do Sudão.

As forças de Dagalo foram um dos principais destinatários do treinamento e armamento russo, e fontes sudanesas da CNN também acreditam que o líder militar do Sudão, Burhan, foi apoiado pela Rússia, antes que a pressão internacional o obrigasse a negar publicamente a presença do grupo mercenário russo Wagner, no Sudão.

Os vizinhos do Sudão, Egito e Sudão do Sul, se ofereceram para mediar, mas, enquanto isso, a única coisa certa é o aumento da angústia do povo sudanês.

CNN/MS

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